sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

A Utilização da Corrente Galvânica no Tratamento de Hiperidrose Primária


Transpirar é necessário para regulação da temperatura corpórea quando o mesmo se apresenta com temperatura acima do normal, sendo a sua produção controlada pelo sistema nervoso autônomo simpático. A hiperatividade das glândulas sudoríparas écrinas leva à transpiração excessiva, principalmente nas regiões plantar, axilar e palmar, sendo essa condição conhecida como hiperidrose. Trata-se de uma afecção benigna que pode ser de origem primária (sem causa conhecida) ou secundária, associada à obesidade, menopausa, drogas antidepressivas e álcool.
A hiperidrose se localiza preferencialmente nas axilas, palmas das mãos, plantas dos pés e face. Estima-se que afete de 0,6 a 1,0% da população, geralmente em adultos jovens, manifestando-se na no início da adolescência ou até mesmo na infância, onde a história familiar é positiva em 30 a 50% dos pacientes, não ocorrendo durante o sono. A hiperidrose focal localizada está associada à considerável morbidade, incluindo maceração da pele, infecções cutâneas bacterianas e fúngicas secundárias. No entanto, a característica desta doença é o intenso desconforto do paciente, comprometendo sua vida social, afetiva e profissional (STOLMAN, 1998; DIAS, 2001; BROIOLO et al., 2006; MONTESSI et al., 2007). Nesse contexto, Ro et al. (2002) concluíram que "Hiperidrose primária palmar é uma desordem hereditária, com prevalência variável, e sem prova de transmissão ligada ao sexo".
O suor em excesso é associado à angústia emocional, profissional e social, já que interfere nas atividades diárias das pessoas acometidas. Esses pacientes sentem-se constrangidos em cumprimentar outras pessoas por meio de aperto de mãos e têm a necessidade de trocar as roupas duas ou mais vezes por dia devido à umidade. Constitui-se em uma disfunção glandular, com o sintoma principal de sudorese excessiva. Esta disfunção, geralmente, é diagnosticada pelo especialista como sendo de "fundo emocional". Certamente, existem pessoas que apresentam causas fisiológicas para o sintoma da hiperidrose; contudo, nestas também o nível de aumento da sudorese é, diretamente, relacionado a fatores emocionais ou psicológicos (COLACITI, 2006; DORNELAS et al., 2008; CARDOSO et al., 2009).
No atual tratamento cirúrgico da hiperidrose localizada, a simpatectomia torácica tem apresentado excelentes resultados, mas, na maioria das vezes, ocorre uma sudorese compensatória em pequena intensidade.Entretanto, o efeito colateral que mais causa arrependimento e desconforto ao paciente é a hiperidrose reflexa (HHR) intensa ou hiperidrose compensatória (HHC), que ocorre no pós-operatório da cirurgia de simpatectomia torácica, sendo caracterizada por sudorese de graus variados, de leve ao suor excessivo, geralmente simétrica, que geralmente acomete as regiões do corpo que não foram simpatectomizadas cirurgicamente e que previamente não apresentavam sudorese anormal, como na região dorsal, no abdome e algumas vezes nos membros inferiores (BARRICHELLO et al., 2007; LYRA et al., 2008).
A transpiração reflexa ou compensatória, em alguns casos, vem a representar importante incômodo como resultado da simpatectomia, assumindo importância e intensidade tão elevadas, que muitos pacientes tornaram-se arrependidos de terem-se submetido à cirurgia. Como conseqüência, a transpiração compensatória passou a ser considerada o marcador de qualidade desse tipo de tratamento (ARAUJO, 2008).
A corrente galvânica também denominada de corrente contínua, define-se como aquela em que o movimento das cargas de mesmo sinal se desloca no mesmo sentido, com uma intensidade fixa. A aplicação desta corrente pode ser dividida em: galvanização propriamente dita e iontoforese (ionização). A galvanização é o uso dessa corrente, utilizando exclusivamente os efeitos polares (que se manifestam unicamente sob os eletrodos) por ele promovidos, já a iontoforese ou ionização, é a penetração de substâncias no organismo, por meio de uma corrente galvânica, que é a que melhor possibilita a migração iônica da substância a ser aplicada pela sua emissão constante e unidirecional do fluxo elétrico. Utilizando no material intermediário uma solução eletrolítica comum como água (BAENA, 2003; IBRAMED, 2006; CUNHA et al., 2007; SCHROEDER, 2008).
É uma corrente de baixa freqüência, com fluxo de elétrons constante sem interrupção nem variação de intensidade na unidade de tempo (MACHADO, 1991). A hiperemia é mais intensa no cátodo, aparecendo como edema, já no ânodo origina um aplanamento da pele.Ocorrem hiperestesias no ânodo e hipoestesias no cátodo A narcose galvânica se dá ao colocar o ânodo em posição cefálica e o cátodo na periferia que produz uma corrente descendente que desencadeia este efeito. Excitação espástica é um efeito inverso ao anterior. A vasodilatação ocorre devido a hiperemia ativa prolongada que ocasiona uma reatividade vasomotora. Tem efeitos: bactericida, antiinflamatória, analgésica, tonificação muscular (GUTMANN, 1991).
Esse estudo visa analisar os efeitos da corrente galvânica em pacientes que apresentam Hiperidrose Primária e a melhora da qualidade de vida desses pacientes relacionado com o constrangimento causado pelo excesso de suor, pelas repetidas trocas de roupas e o que mudou na sua vida pessoal, afetiva e profissional sem que para isso haja necessidade da realização da cirurgia de simpatectomia evitando assim efeitos colaterais decorrente do procedimento.

 

Materiais e Métodos

Esta pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética da Faculdade Maurício de Nassau, sob o protocolo n° 294106.
O presente estudo foi realizado na Clínica Escola de Fisioterapia da Faculdade Maurício de Nassau, no período de Fevereiro a Maio de 2010, caracteriza-se por um estudo quantitativo do tipo experimental, composto por uma amostragem de conveniência, escolhidos aleatoriamente, onde foram envolvidos 03 voluntários do sexo masculino, com idade entre 21 e 30 anos que apresentaram Hiperidrose Primária sem nunca ter realizado tratamento anterior para essa doença.
Para seleção da amostra da pesquisa foram considerados como critérios de exclusão: pacientes com sensibilidade à corrente elétrica, apresentando lesão dermatológica, problemas cardiacos, gestantes, diabéticos ou que apresentem hipertensão descontrolada, como também ser portadora de neoplasias. Os voluntários foram esclarecidos sobre o procedimento a ser realizado através do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) e com isso foi obtido o seu consentimento para realização dos procedimentos. Após o processo seletivo os pacientes foram submetidos a uma avaliação para observar as áreas mais acometidas e as que mais causam desconforto, e posteriormente responderam a um questionário de qualidade de vida adaptado de Broilo et al. (2006). Todos os pacientes após realizar a avaliação responderam ao questionário que se baseia na comparação entre o antes e o depois do tratamento, abordando pontos que envolvem convivio com seu parceiro, no ambiente de trabalho, ao realizar tarefas do dia a dia, situações em que o paciente se sente mais afetado pela HPP, além de estimular o paciente a pensar mais na sua situação buscando saber como ela se comporta diante do seu distúrbio.
Para a realização do tratamento, há necessidade de um eletrodo ativo, e um eletrodo passivo que é do tipo placa. A faixa ideal para tratamento concentra-se entre 70 a 100uA, podendo variar dependendo da sensibilidade do paciente. O protocolo utilizado constou em preparar um recipiente contendo água e mergulhar a palma da mão do paciente será posicionado um eletrodo de corrente galvânica dentro da água e o outro na região escapular do paciente, o aparelho será ativado por aproximadamente 14 minutos, invertendo a polaridade durante o procedimento. O mesmo vai ser repetido por três vezes na semana e re-avaliadas através do questionário de qualidade de vida.

 

Análise e Discussão dos Resultados

A HPP é uma doença comum e pouco compreendida, está comumente associada à hiperatividade do sistema nervoso simpático, que gera hipertrofia glandular e hipersecreção. O suor excessivo nas palmas das mãos é a situação que mais se torna inconveniente em encontros profissionais e sociais. A hiperidrose axilar é uma condição comum e angustiante, a difícil aceitação social, o desconforto da umidade constante, o odor e o fato de manchar as roupas diminuem significamente a qualidade de vida desses indivíduos (MONTESSI et al., 2007; DORNELAS et al., 2008; CARDOSO et al., 2009).
Como mostramos na tabela 1, durante a avaliação observamos que a região de mais incômodo nesses pacientes foi a região palmar que tinha como queixa principal o suor excessivo na região das mãos assim como também a umidade nas axilas. Em todos os pacientes, a HPP esteve ligada à ambientes agitados e situações em que o indivíduo se encontrava estressado em seu estado emocional.

Observamos também que o paciente 2 e o 3 tiveram o caráter de hereditariedade como um dos fatores predisponentes à HPP, como afirmamos anteriormente de acordo com o estudo de Ro et al. (2002) onde a HPP é uma desordem hereditária, outros estudos afirmam que a história familiar é positiva em 30 a 50% dos pacientes, afetando geralmente adultos jovens, manifestando-se no início da adolescência ou até mesmo na infância. (STOLMAN, 1998; DIAS, 2001; BROIOLO et al., 2006; MONTESSI et al., 2007)

Os pacientes se submeteram a um questionário de qualidade de vida antes do tratamento e após a terapia baseado no questionário adaptado de Broilo et al. (2006). Que compara com escala de (0 a 100), abordando os pontos importantes como o convívio social e profissional, convívio pessoal com seu parceiro e o emocional buscando saber como ela se porta consigo mesma e com os outros perante o problema.

Como mostra o Gráfico 01, no nosso estudo observou a melhora do paciente acompanhada pelo questionário de qualidade de vida apos realizar as 10 sessões.

Observamos através desse gráfico a melhora dos pacientes após realizar a primeira sessão. O paciente 1, submetido ao questionário, obteve o valor igual a (63), o paciente 2 (52) e o 3 (42), resultados avaliados em escala de 0 a 100 onde o resultado 20 é considerado excelente e 100 muito grave. Com a realização da terapia, após as 10 sessões foram realizadas as re-avaliações onde os mesmos obtiveram os resultados do paciente 1 (44), paciente 2 (40) e 3 (21) melhorando seus resultados em relação ao início do tratamento.

Os melhores resultados observados foram exatamente onde os pacientes mais sentiam-se incomodados, o convívio social e profissional como também o convívio pessoal tiveram grandes ganhos em relação ao início do tratamento assim demostrado também no emocional do paciente que obteve melhoras que além de sentirem mais confortáveis em relação com a hiperidrose também a uma maior segurança para que os mesmo realizem suas atividades diárias evitando assim os constragimentos causados pela HPH.

O grau de satisfação dos pacientes foi avaliado em escala de 0 a 10 onde os mesmos pontuaram de acordo com os benefícios recebidos após a realização do tratamento como mostra na figura 1. Onde podemos abservar que o tratamento foi significativo para esses pacientes, onde a avalição alcançou uma media de 8,6 entre os mesmos.

Diante do estudo realizado, foi possível observar um resultado positivo do uso da corrente galvânica no tratamento da hiperidrose primária após realizar as 10 sessões, percebendo uma melhora significativa dos pacientes e a satisfação dos mesmos com o resultado obtido.

Figura 1. Grau de Satisfação

 

Não foi observado nenhum tipo de reação adversa ao tratamento após realizar a terapia, a sensação de formigamento e a hiperemia causada pela aumento da circulação sanguinea no local do tratamento foi apenas o que se foi possível observar, não houve relato de nenhum tipo de incômodo ou sensação após tratamento por parte dos pacientes.

 

Considerações Finais

Apesar de não contar com estudos anteriores realizando tal procedimento, a área da Fisioterapia Dermato-Funcional demostrou ser uma alternativa para tratar a hiperidrose, somando assim mais um tratamento eficaz evitando a necessidade do paciente passar pela cirurgia de simpatectomia anulando o risco de passar por uma hiperidrose reflexa ou compensatoria. A Fisioterapia Dermato-Funcional abre novos caminhos para tratamentos com a corrente galvanica em pacientes com hiperidrose primaria, mas é sabido que há poucas pesquisas desenvolvidas nesta área, na abordagem da galvanizaçao em hiperidrose primaria. Por esse motivo, é restrito o material didático disponível para essa pesquisa.
O resultado obtido neste estudo apresentou-se muito satisfatório. Quanto à motivação dos pacientes no pós-tratamento, ambos declararam-se como muito realizados com os resultados. No entanto, ele não pode ser generalizado para outros casos clínicos semelhantes, apenas ajuda a divulgar experiências clínicas na nossa área, com procedimentos não invasivos, gerando hipóteses para pesquisas futuras.

 

Referências

ARAÚJO, C. A. A. Hiperidrose compensatória após simpatectomia toracoscópica: caracteristícas, incidêndia e influência na satisfação do paciente. 56p. Tese de doutorado em Ciência da Saúde pelo Programa de Pós Graduação em Ciências da Saúde da Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Natal. 2008.

BAENA E. G. A utilização da corrente galvânica (eletrolifting) no tratamento do envelhecimento facial. 97p. Trabalho de conclusão de curso de fisioterapia do Centro de Ciências Biológicas e da Saúde da Universidade Estadual do Oeste do Paraná- Campus Cascavel 2003.

BARICHELLO, A. P. C. et al. Hiperidrose vs sudorese compensatória: benefício de um tratamento ou risco de um novo problema? Rev. Assoc. Med. Bras., São Paulo, v. 53, n. 5, p.1-3, out. 2007.

BROIOLO, C. et al. Qualidade de vida em pacientes com hiperidrose primária e comparação entre duas técnicas cirúrgicas. Revista da Amrigs, Porto Alegre, v. 3, n. 50, p.205-210, 3 abr. 2006.

CARDOSO, P. O. et al. Avaliação de pacientes submetidos a tratamento cirúrgico de hiperidrose palmar quanto à qualidade de vida e ao surgimento de hiperidrose compensatória. Rev. Col. Bras., Belo Horizonte, v. 1, n. 36, p.14-18, 2009.

COLACITI, A. K. Hiperidrose: Um sintoma em busca da totalidade do individuo – Breve Relato de Caso. Revista Científica Eletrônica de Psicologia. ano IV , n. 6, Maio. 2006.

CUNHA, E. S. da et al. Intervenção fisioterapêutica no tratamento do fibroedema gelóide. Rev. Cn Fisio., 11p. Tiradentes. mar. 2007.

DIAS, L. et al. Eficácia da toxina butolínica no tratamento da hiperidrose. Rev. Neurociências. Salvador, v. 3, n. 9, p.93-96, 2001.

DORNELAS, M. T. et al. Tratamento da hiperidrose axilar com lipoaspiração. Rev. Bras. Cir. Plástica. Juiz de Fora, v. 3, n. 23, p.145-148, 2008

GUTMANN, A. Z. Fisioterapia Atual. 2. ed. São Paulo: Pancast, 1991.

LYRA, R. M. et al. Diretrizes para a prevenção, diagnóstico e tratamento da hiperidrose compensatória. J. Bras. Pneumol., São Paulo, v. 11, n. 34, p.967-977, 28 maio 2008.

MACHADO, C. M.; Eletrotermoterapia Prática. 2. ed. São Paulo: Pancast, 1991.

IBRAMED. Manual de Operação STRIAT. 3. ed. Rio de Janeiro, 2006.

MONTESSI, J. et al. Simpatectomia torácica por videotoracoscopia para tratamento da hiperidrose primária: estudo retrospectivo de 521 casos comparando diferentes níveis de ablação. Jornal de Pneumologia, Juiz de Fora, v. 33, n. 3, p.248-254, 3 jun. 2007.

RO, K. M et al. Hyperidrosis: Evidence of Genetic Transmission. J. Vasc. Surg. California. 4p. 2002.

SCHROEDER, E. M. Aparelho Eletroestimulador para tratamento estético. 40p. Trabalho de Conclusão de curso como requisito parcial a conclusão do Curso de Engenharia da Computação. Curitiba. 2008.

STOLMAN, L. P. Treatment of hyperhidrosis. Dermatol Clin. v. 4, n. 16, 7p.New Jersey.1998.


por: Alessandro Diego Delgado Machado;  Nely Dulce Varela

Nova Fisio, Revista Digital. Rio de Janeiro, Brasil, Ano 15, nº 89, Nov/Dez de 2012. http://www.novafisio.com.br


quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

Fisiopatologia da queimadura


Entende-se por queimadura o quadro resultante da ação direta ou indireta do calor sobre o organismo humano. A despeito de o prognóstico ter melhorado dramaticamente, em especial graças ao reconhecimento da importância do debridamento precoce1 e ao progresso no emprego de substitutos biológicos da pele, as queimaduras ainda configuram importante causa de mortalidade. Esta se deve principalmente à infecção que pode evoluir com septicemia, assim como à repercussão sistêmica, com possíveis complicações renais, adrenais, cardiovasculares, pulmonares, musculoesqueléticas, hematológicas e gastrointestinais. Além disso as queimaduras resultam em considerável morbidade pelo desenvolvimento de seqüelas, estando entre as mais graves a incapacidade funcional, especialmente quando atinge as mãos, as deformidades inestéticas, sobretudo da face, e também aquelas de ordem psicossocial. As queimaduras, dependendo da localização, podem ainda causar complicações neurológicas, oftalmológicas e geniturinárias. Decorre daí o fato de a correta abordagem inicial do queimado ser essencial para o prognóstico a curto e longo prazo.

A queimadura compromete a integridade funcional da pele, responsável pela homeostase hidroeletrolítica, controle da temperatura interna, flexibilidade e lubrificação da superfície corporal. Portando, a magnitude do comprometimento dessas funções depende da extensão e profundidade da queimadura.

A injúria térmica provoca no organismo uma resposta local, traduzida por necrose de coagulação tecidual e progressiva trombose dos vasos adjacentes num período de 12 a 48 horas. A ferida da queimadura a princípio é estéril, porém o tecido necrótico rapidamente se torna colonizado por bactérias endógenas e exógenas, produtoras de proteases, que levam à liqüefação e separação da escara, dando lugar ao tecido de granulação responsável pela cicatrização da ferida, que se caracteriza por alta capacidade de retração e fibrose nas queimaduras de terceiro grau.6,15

Nas grandes queimaduras, além da resposta local, o dano térmico desencadeia ainda uma reação sistêmica do organismo, em conseqüência da liberação de mediadores pelo tecido lesado. Ocorre extenso dano à integridade capilar, com perda acelerada de fluidos, seja pela evaporação através da ferida ou pela seqüestração nos interstícios, que é agravada por subprodutos da colonização bacteriana. Além disso, nas queimaduras extensas, superiores a 40% da área corporal, o sistema imune é incapaz de delimitar a infecção, que, sistematizando-se, torna rara a sobrevida nesses casos.

Essa resposta sistêmica manifesta-se por febre, circulação sangüínea hiperdinâmica e ritmo metabólico acelerado, com aumento do catabolismo muscular, decorrente de alteração da função hipotalâmica (aumento da secreção de glucagon, cortisol e catecolaminas), da deficiência da barreira gastrointestinal (passagem de bactérias e seus subprodutos para a circulação sistêmica), da contaminação bacteriana da área queimada (liberação sistêmica de bactérias e subprodutos), da perda de calor (evaporação através da ferida levando à hipotermia) e da perda de fluidos (desequilíbrio hidroeletrolítico).

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

Parecer técnico para a especialidade de DERMATO-FUNCIONAL


O PLENÁRIO DO CONSELHO FEDERAL DE FISIOTERAPIA E TERAPIA OCUPACIONAL, no uso de suas atribuições e disposições regulamentares conferidas pela Lei nº. 6.316, de 17 de dezembro de 1975, e a Resolução nº. 181, de 25 de novembro de 1997, em que,

ACORDAM os Conselheiros do Conselho Federal de Fisioterapia e Terapia Ocupacional, reunidos na sessão da 225ª Reunião Plenária Ordinária, em aprovar por unanimidade a Normatização das Técnicas e recursos próprios da Fisioterapia Dermatofuncional.

O tratamento fisioterapêutico Dermatofuncional, assim como todos os outros tratamentos pode oferecer diferentes graus de risco à saúde da população. Assim, mister se dá primeiro, definir risco.

Para a ANVISA risco é a probabilidade de um efeito adverso à saúde causado por um perigo ou perigos existentes, sendo o perigo o componente que tem potencial de oferecer risco. Sendo assim, a segurança do paciente/cliente consiste em reduzir o risco de danos desnecessário-evitáveis relacionados aos cuidados de saúde a um mínimo aceitável.

O Bioethics Thesaurus caracteriza risco como sendo a probabilidade de ocorrência de um evento desfavorável. Define risco em saúde como o perigo potencial de ocorrer uma reação adversa à saúde. Engloba uma variedade de probabilidades incluindo aquelas baseadas em dados estatísticos ou em julgamentos subjetivos.

A Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde define risco como a possibilidade de danos à dimensão física, psíquica, moral, intelectual, social, cultural ou espiritual do ser humano, em qualquer fase de uma pesquisa e dela decorrente.

Para o COFFITO, risco, independente do seu nível, decorre do exercício profissional sem a observância das regulamentações técnicas estabelecidas por esta Autarquia, nos termos de sua competência legal.

Por segurança da população assistida os serviços de fisioterapia devem ser capazes de ofertar serviços dentro dos padrões de qualidade exigidos, atendendo aos requisitos da legislação e regulamentos vigentes.

De acordo com a Resolução COFFITO 8, artigo III, são recursos terapêuticos a ação isolada ou concomitante de agente termoterapêutico, crioterapêutico, hidroterapêutico, aeroterapêutico, fototerapêutico, eletroterapêutico, sonidoterapêutico, massoterapêutico, mecanoterapêutico, cinesioterapêutico motor e cardiorespiratório e utilização de órteses e próteses.

A fisioterapia Dermatofuncional utiliza ainda a cosmetologia (RDC/ANVISA 79/00) e acupuntura (Resolução COFFITO 219/00) como recursos terapêuticos, podendo também lançar mão das Práticas Integrativas e Complementares de Saúde (Resolução COFFITO 380/10), tecnologias assistivas, entre outros.

Este parecer trata dos seguintes procedimentos utilizados pela Fisioterapia Dermatofuncional: LASER, Luz Intensa Pulsada, Radiofrequência, Carboxiterapia e Peelings, tomando por base documento produzido pelo GT de Fisioterapia Dermatofuncional do COFFITO (2011).

LASER:

O termo laser é abreviação do termo inglês Light Amplification by Stimulated Emission of Radiation, sendo um tipo de energia luminosa que possui características próprias que o diferenciam de outras fontes similares. É uma radiação não ionizante, monocromática, colimada e polarizada (Baxter, 2003).

Baseada na evolução das tecnologias Laser e na teoria da fototermólise seletiva, novas indicações terapêuticas passaram a ser utilizadas como para lesões hiperpigmentadas e hipopigmentadas, fotoenvelhecimento, epilação e lesões vasculares periféricas.

O laser de baixa potência cada vez mais é utilizado em várias aplicações clínicas. Ao contrário dos lasers de alta potência, os soft lasers emitem luz em baixa densidade de energia e promove certas reações bioquímicas sem induzir a efeitos térmicos nos tecidos subjacentes (Kreisler et al., 2003).

Conclui-se que a utilização dos Lasers classificados como cirúrgicos ou de alta potência (Power-Laser) não são recomendados para o uso do fisioterapeuta. Os demais tipos de lasers de baixa e média potência não ablativos utilizados para epilação, discromias, envelhecimento cutâneo, flacidez tegumentar, lesões vasculares estão entre os recursos fototerápicos mencionados na Resolução COFFITO 8, portanto, entende-se que a utilização dos Lasers não ablativos é considerado como de uso próprio do fisioterapeuta.

Luz intensa pulsada:

Luz intensa pulsada, erroneamente denominada de lasers, apresenta ações similares, nos quais o espectro de radiação produzida abrange vários comprimentos de onda simultaneamente (de 50 a 900 nm).

A diversidade de comprimentos de onda utilizados nos aparelhos de luz intensa pulsada possibilita o tratamento de indivíduos de diferentes fototipos de pele, bem como, várias aplicações: epilação, remoção de manchas e tatuagens, rejuvenescimento não-ablativo e lesões vasculares (Maio, 2004; Osório, Torrezan, 2002).

Conclui-se que a luz intensa pulsada é considerada uma fonte de luz não laser, gerada por lâmpadas, resultando na emissão de calor e radiação luminosa, sendo, portanto, classificada como um recurso fototermoterapeutico próprio do fisioterapeuta.

Para os procedimentos citados acima (Lasers e Luz Intensa Pulsada) é necessário que o fisioterapeuta observe os seguintes critérios:

I. Utilizar, exclusivamente, equipamentos com cadastro ou registro pela ANVISA e manter em seu poder tais documentos comprobatórios para fins de fiscalização do CREFITO de sua circunscrição;

II. Prestar assistência a no máximo um cliente/paciente/usuário por vez, nunca se ausentando, em qualquer de sua etapa, do local onde o procedimento é realizado.

III. Informar ao cliente/paciente/usuário sobre a técnica e seu grau de risco, colhendo dele a assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido;

IV. Manter registro em prontuário de todas as etapas do tratamento.

V. Aplicar os princípios da biossegurança;

VI. Aplicar a técnica em ambiente próprio que garanta o máximo de higiene e segurança estabelecidos em normas da ANVISA ou outras em vigor.

Radiofrequência:

A radiofrequência é um tipo de radiação eletromagnética que em frequências mais elevadas gera calor nos tecidos biológicos. O principal efeito da sua utilização é o estímulo na produção de fibras colágenas, que resulta na melhora do aspecto da pele, sendo indicada em alterações cutâneas como flacidez cutânea e rugas, dentre outras.

A técnica é considerada não ablativa, induzindo a produção de colágeno sem ruptura da pele.

Conclui-se que o princípio de funcionamento da radiofrequência se enquadra dentro dos recursos físicos de tratamento, especificamente a termoterapia. Os efeitos adversos podem ser bem controlados e na sua maioria são passageiros. Os riscos de lesões por queimadura podem ser evitados e ou minimizados com a aquisição de habilidades e competências específicas de avaliação, indicação e de execução da técnica de aplicação bem como a eficiência de resultado.

Para o procedimento citado acima é necessário que o fisioterapeuta observe os seguintes critérios:

I. Utilizar, exclusivamente, equipamentos com cadastro ou registro pela ANVISA e manter em seu poder tais documentos comprobatórios para fins de fiscalização do CREFITO de sua circunscrição;

II. Prestar assistência a no máximo um cliente/paciente/usuário por vez, nunca se ausentando, em qualquer de sua etapa, do local onde o procedimento é realizado.

III. Informar ao cliente/paciente/usuário sobre a técnica e seu grau de risco, colhendo dele a assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido;

IV. Manter registro em prontuário de todas as etapas do tratamento.

V. Aplicar os princípios da biossegurança;

VI. Aplicar a técnica em ambiente próprio que garanta o máximo de higiene e segurança estabelecidos em normas da ANVISA ou outras em vigor;

PEELING

É considerado como agente indutor da descamação controlada, conduzindo diversas reações na pele como espessamento da epiderme, aumento de volume da derme, liberação de mediadores de inflamação e citocinas, além da reorganização de elementos estruturais. Podem ser classificados como químicos ou físicos.

Peeling físico:

Varia desde receitas caseiras como cristais de açúcar, lixas, cremes abrasivos com micro esferas de material plástico, até os aparelhos de microdermoabrasão por fluxo de cristais ou as lixas de ponta de diamante (Quiroga e Guillot, 1986), além do ultrassônico.

Dermoabrasão trata-se de uma esfoliação até o limite dermo-epidérmico com objetivo de aumentar a nutrição pelo estímulo dérmico (Sabatovich et al., 2004; Ruiz, 2004; Rusenhac, 2006) e estimular a proliferação de fibroblastos e, conseqüentemente, do colágeno pela injúria intra epidérmica repetida (Shepall et al., 2004).

As reações decorrentes da aplicação do peeling superficial (sensação de ardência, queimação, eritema e edema), podem ser controladas por meio dos recursos próprios da fisioterapia.

Peeling químico:

Uso de substâncias químicas isoladas ou combinadas no intuito de obter-se o agente mais adequado para cada caso para graus variados de esfoliação (Ghersetich et al., 1997; Monheit, 2001). Dividem-se os peelings químicos em:

- Muito superficial, que atinge as camadas córnea e granulosa;

- Superficial, atinge a epiderme;

- Médio atinge a derme papilar;

- Profundo que atinge a derme reticular (Camacho, 2004, Zakapoulou, Kontochristopoulos, 2006).

Conclui-se que o fisioterapeuta não deve aplicar procedimentos de peeling cuja profundidade ultrapasse o limite da epiderme.

Para os procedimentos citados acima é necessário que o fisioterapeuta observe os seguintes critérios:

I. Quando for o caso, utilizar, exclusivamente, equipamentos com cadastro ou registro pela ANVISA e manter em seu poder tais documentos comprobatórios para fins de fiscalização do CREFITO de sua circunscrição;

II. quando o tratamento envolver peeling mecânico;

III. Aplicar os princípios da biossegurança para prevenir infecções cruzadas e descarte de respectivo material;

IV. Aplicar a técnica em ambiente próprio que garanta o máximo de higiene e segurança estabelecidos em normas da ANVISA ou outras em vigor;

V. Informar ao cliente/paciente/usuário sobre a técnica e seu grau de risco, colhendo dele a assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido;

VI. Manter registro em prontuário de todas as etapas da técnica.

Carboxiterapia:

A carboxiterapia é uma técnica onde se utiliza o gás carbônico (dióxido de carbono ou CO2 ou anidro-carbônico) injetado no tecido transcutâneo, estimulando assim efeitos fisiológicos como melhora da circulação e oxigenação tecidual, angiogênese e incremento de fibras colágenas, podendo ser utilizado no tratamento do fibro edema gelóide, de lipodistrofias localizadas, além da melhora da qualidade da cicatriz, melhora da elasticidade e irregularidade da pele (Brandi et al., 2001, 2004; Hidekazul, et al., 2005, Goldman et al., 2006; Worthington, Lopez, 2006, Lee, 2008, Nach, et al., 2010).

A carboxiterapia por sua complexidade é admitida pelo COFFITO como técnica de risco, factível de desenvolver efeitos adversos.

Como se trata de procedimento de risco é recomendável ao fisioterapeuta ser especialista profissional em fisioterapia Dermatofuncional e ainda observar os critérios abaixo especificados:

I. No caso de profissional capacitado, porém que ainda não é especialista profissional, apresentar junto ao CREFITO documentos que comprovem devida habilitação para atuar com a técnica.

II. Comprovar junto ao CREFITO de sua circunscrição conhecimento teórico e prático de primeiros socorros por meio de certificado de conclusão de curso de suporte básico de vida (Basic Life Support, BLS); ou outro que garanta a formação necessária para os primeiros socorros;

III. Utilizar, exclusivamente, equipamentos com cadastro ou registro pela ANVISA e manter em seu poder tais documentos comprobatórios para fins de fiscalização do CREFITO de sua circunscrição;

IV. Garantir a adequada remoção do cliente/paciente/usuário para unidades hospitalares em caso de indubitável urgência e emergência;

V. Prestar assistência a no máximo um cliente/paciente/usuário por vez, nunca se ausentando, em qualquer de sua etapa, do local onde o procedimento é realizado.

VI. Informar ao cliente/paciente/usuário sobre a técnica e seu grau de risco, colhendo a assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido;

VII. Manter registro em prontuário de todas as etapas do tratamento;

VIII. Aplicar os princípios da biossegurança para prevenir infecções cruzadas e descarte de respectivo material;

IX. Aplicar a técnica em ambiente próprio que garanta o máximo de higiene e segurança estabelecidos em normas da ANVISA ou outras em vigor.

Quorum:; Dra. Elineth da Conceição Silva Braga – Diretora-Secretária no exercício da presidencia; Dr. Wilen Heiln e Silva – Diretor-Tesoureiro; Dr. Adamar Nunes Coelho Júnior – Conselheiro Efetivo, Dra. Carlene Soares Borges – Conselheira Efetiva, Dr. Glademir Schwingel – Conselheiro Efetivo; Dra. Perla Teles – Conselheira Efetiva; Dra. Rita Barcelos Bittencourt – Conselheira Efetiva; Dr. Hebert Chimicatti – Procurador Chefe da Procuradoria Jurídica do COFFITO.

Brasília, 16 de junho de 2012.

 

DR. WILEN HEIL E SILVA
Diretor-Tesoureiro

DRA. ELINETH DA CONCEIÇÃO BRAGA
Diretora – Secretária no exercício da Presidência